Um Hino Vampírico no “Texto das Pirâmides” ?

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Um Hino Vampírico no “Texto das Pirâmides” ?

Postby VITRIOL (Otto) » Sat Jan 17, 2009 6:55 am

Teria o Antigo Egito nos legado uma relíquia que ainda hoje faz ecoar mistérios intimamente associados a uma forma sofisticada de vampirismo? Será?

O primeiro Faraó a decorar uma pirâmide com fórmulas rituais foi o Faraó Unas (2378 – 2348 A.C.) ou Unis. Não sabemos exatamente como se chamava pois os hieróglifos egípcios são antes de tudo associados a consoantes ou combinações das mesmas. As raras vogais não nos permitem saber com exatidão como as palavras eram pronunciadas, pelo que os egiptólogos criaram um modelo artificial de dizê-las, atribuindo “vogais” aos espaços entre consoantes... conscientes que são sons aproximados...

O Faraó Unas foi o último representante da V dinastia e, sua pirâmide em Saqqara, por fora quase completamente em ruínas, se localiza a cerca de 15 quilômetros das pirâmides de Gizé. O texto encontrado dentro deste túmulo ficou conhecido como o “Textos das Pirâmides”, sendo este considerado o texto religioso extenso mais velho até hoje encontrado do Antigo Egito, não apenas uma cópia mais recente, mas o mais velho texto que sobreviveu até nós.

Em meio ao Texto das Pirâmides encontra-se um hino, mais exatamente nas Falas 273 e 274, escritas na parte superior da parede Leste da câmara que antecede a sala do sarcófago de Unas, pois as paredes desta pirâmide estão alinhadas com quase precisão aos pontos cardeais, algo que não será tão comum em construções posteriores. O arcaísmo do texto é tal que permite aos egiptólogos admitir ser derivado ou conter traços talvez pré-históricos daquela cultura. Estamos falando daquele que ficou conhecido como o “Hino Canibal”, pois nele o Faraó Unas se alimenta das essências, dos espíritos dos homens e dos Deuses.

Vejamos algumas propostas de tradução das Falas 273 e 274, lembrado que a tradução perfeita é impossível, conforme atesta a metodologia de pesquisa aplicada tanto pela filosofia quanto pela antropologia, as quais orientam que se leia uma obra em sua língua original. Isto se aplica até mesmo as línguas vivas da atualidade, o que dirá para o egípcio antigo, considerado uma das línguas mais complexas que o mundo já conheceu e que guarda muito bem seus segredos... pois desde o início foi uma língua para poucos, para iniciados. Uma língua calculadamente complexa e misteriosa... para se guardar segredos...

A antropologia social coloca que devemos observar uma cultura pelos olhos daqueles que a constituem e não através de nossos conceitos de realidade. Para os egípcios o mundo era constituído por uma unidade em aparente multiplicidade. O mundo era uma grande metáfora...assim como cada elemento que o constituía, daí a natureza poética desta concepção de mundo. Em um mundo assim cada coisa se liga a diversas outras semelhantes, em associações instantâneas, e mesmo Deuses diferentes podem ser identificados como um só. Quando nós, em nossa cultura, olhamos uma pedra... vemos uma pedra, se olhamos um rio... vemos um rio e assim por diante. Assim para nós o mundo está bem dividido. Na concepção egípcia ao se ver uma pedra toco todo o país...todas as terras... todos os tronos... todos os túmulos... toda estabilidade... toda estátua, toda perpetuidade...toda imortalidade, assim como uma lagoa vira um portal das “águas” celestiais, do céu azul e das estrelas. Estas associações podem se ligar a outras numa malha complexa que tende a fundir as coisas. Algo semelhante ao que ocorre em psicometria, ou a capacidade psíquica de ao tocar um objeto se ver o passado que este objeto “presenciou”, e dos locais onde esteve, sendo portanto a cosmologia egípcia de mundo um instrumento que nos treina o desenvolvimento da clarividência. As imagens egípcias são polissêmicas (com muitos significados...ou melhor um portal para varias coisas, regiões, forças, etc), e são performáticos, isto é, portais para a vinda de uma natureza ativa, de poderes vindos do plano da mente e das emoções. O mundo assim passa a ser uma metáfora...com infinitos portais para onde quer que olhemos. Um mundo fluídico...que se “desintegra” diante de nossos olhos...em múltiplas conexões que integram coisas distantes no tempo e no espaço, assim como qualidades e quantidades que para a nossa cultura seriam impensáveis integrar e associar.

Com este espírito, e sabendo que estamos pisando terras culturalmente exóticas, procuremos ler alguns trechos deste hino multimilenar. Colocarei entre chaves [ ] algum comentário possível. Não dá para colocar todos os trechos, e exibiremos aqui um resumo apenas: Vamos lá.

397) Unas é o búfalo celestial, aquele que destrói à sua vontade, que vive no ser de todos os Deuses, que se alimenta de suas entranhas, mesmo daqueles que vêm com seus corpos cheios de magia da Ilha do Fogo. [nascer do lago do duplo fogo será usado no futuro como símbolo do nascimento sobrenatural (iluminação) da adepta/adepto no “Per en Hru” ou Livro dos Mortos Egípcio].
(...)
400) Unas é aquele que prepara por si mesmo sua refeição. Unas é aquele que se alimenta de homens, e que vive nos deuses, Senhor dos portadores de mensagens. [“mensageiro” em alusão a Toth, senhor da magia, da escrita, da Lua e da sensitividade].
(...)
403) (...) e irá extrair para ele o que está em seus corpos
(...)
Em verdade, Shesmu [Deus presente desde a III dinastia, Deus dos ungüentos, dos embalsamadores, mestre dos perfumes, das adegas e vinhos vermelhos (associados ao sangue) que se dava ao morto para que recobrassem as forças e a vitalidade] corta-lhes [a garganta, conforme especificado em parte anterior do texto] para Unas e prepara-lhe a refeição resultante em pratos para o jantar.
Unas é aquele que come suas magias, e absorve seus espíritos. [Akr, o espírito imortal de todos os seres, o corpo imortal por excelência].
404) Os grandes são para o desjejum dele.
Os medianos para o jantar dele.
Os pequenos para a refeição noturna dele.
(...)
407) ...Para Unas este é o grande poder que excede os poderes
Unas é uma imagem sagrada, a mais sagrada imagem,
Da sagrada imagem da Grande Unidade.
Quem ele encontra em seu caminho ele devora aos poucos.
(...)
409) Unas ressuscita novamente no céu
e é coroado o Senhor do Horizonte
ele tem rompido a espinha dorsal [rompido os obstáculos dentro da coluna]
e capturado o coração dos Deuses.
410) Ele come a Coroa Vermelha [pedra vermelha da alquimia Alexandrina, enxofre]
ele absorve o Grande Verdor [a pedra verde da alquimia, o mercúrio]
Unas se alimenta dos pulmões dos sábios. [símbolo do alento e vitalidade]
Seu prazer está em viver nos corações. [a pedra filosofal e/ou sal filosofal primitivo]
Assim como em suas magias. [poder resultante]
(...)
411) A dignidade de Unas não lhe será tirada, pois ele tem absorvido a sabedoria de todos os deuses.
(...)
414) Unas é aquele que se torna visível, que surge, que é perpétuo. Os malfeitores não serão capazes de destruir seu assento favorito entre os que vivem nesta terra, eternamente e a caminho da perpetuidade.
........

O texto é bem mais belo e maior, e quem conhece alquimia ficará impressionado com algumas associações evidentes à simbologia da alquimia Alexandrina egípcia e da posterior alquimia medieval e às técnicas de manipulação de energia que alguns vampiros usam.
Importante frisar que não há registros de canibalismo no Egito histórico!!!
O que se fala aqui, por vezes de forma bem explícita, é que o Faraó Unas é capaz de absorver e de se alimentar do “espírito”, das essências materiais, emocionais, mentais e eternas de homens e Deuses, de sua sabedoria e magia, e assim atingir a imortalidade.

Inevitável dizer, embora 99,999999% dos leitores aqui não precisem ouvir isto, e peço desculpas de antemão, mas este website é publico e é sempre bom deixar as coisas claras. Obviamente não se está aqui descrevendo o canibalismo em si, mas uma metáfora do mesmo. Não há registros históricos de canibalismo no Egito, principalmente na época dos Faraós! Por outro lado a Subcultura Vampyrica e Vampírica não pratica o canibalismo, nem faz apologia ao mesmo!!!! Se alguém praticar assassinatos e canibalismo, certamente não se tornará um vampiro e certamente destruirá sua vida e acabará em uma prisão!

Voltando....trata este hino da descrição mística de uma prática vampírica?

Dion Fortune em sua obra “Autodefesa Psíquica” de 1930, obra seminal em estudos de vampirismo até hoje, relata um procedimento que consiste em praticamente “comer” espiritualmente uma egrégora ou projeção astral.

Qualquer vampiro energético, ou alguém que tenha experimentado o processo e se tornado sensível ao mundo sutil desta prática sabe o quão ambientes carregados de emoções e pensamentos específicos os podem tonificar ou subtrair sua energia, não propriamente energia vital, mas depreciar seu ser consciente, sua assinatura astral...por assim dizer, isto é, sua vibração inerente e própria. Assim assistir certos filmes, ler certos livros ou poesias, apreciar certos quadros, etc, “os alimentaria” tanto quanto energia vital. Não os alimentaria de “prana”, embora também com ela, mas os alimentaria de emoções e pensamentos que constituem seu ser, sua alma, sua essência...alimentaria aquilo que são. Os ocultistas sabem que podemos atrair e absorver pensamentos e emoções (egrégoras). Todas as pessoas fazem isto inconscientemente, e este ato pode ser benéfico e os fortalecer, como pode explicar e causar obsessões (vícios) e desequilíbrios de toda sorte. Praticado conscientemente e com sabedoria de causa e efeito, pode alimentar nossa sabedoria, iluminação, poder, vontade, vivacidade, glamour, inteligência e amor...enfim e finalmente até nossa imortalidade... e iluminação interior. Será?

O Hino do Faraó Unas abre a possibilidade para refletirmos o vampirismo em termos mais amplos e além daquele da energia vital? Porém é possível distinguir energia vital de emoções e pensamentos? Andam as três juntas? Pode o vampiro através de vampirismo seletivo e filtros conscientemente criados se encaminhar em direção a um processo real de evolução e aprimoramento de seu ser, de suas emoções, de seus pensamentos e Eu Superior...e rumar à sua iluminação e emancipação espiritual conforme talvez proposta aqui pelo Faraó Unas? Isto é vampirismo?

Muitas perguntas...
Talvez uma só... podemos dar um sentido amplo e abrangente ao vampirismo ?
Talvez um quebra cabeças de milhares de anos que apenas começamos a montar...

Abraços fraternais

Vitriol

http://www.pyramidtextsonline.com/index.html
http://www.pyramidtextsonline.com/plan.html
(nos permite “locomover” dentro do túmulo de Unas e ver as fotos detalhadas de suas Lages e hieróglifos (lindo!!!), além de mostrar uma das traduções possíveis em inglês de todo o “Texto das Pirâmides” dentro desta pirâmide de Unas)
Frater VITRIOL (Otto)
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