Da Alquimia e do Vampyrismo...

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Da Alquimia e do Vampyrismo...

Postby VITRIOL (Otto) » Mon Feb 02, 2009 12:21 pm

A alquimia, na forma final em que veio a ser conhecida entre europeus e árabes, parece ter surgido entre os séculos III e IV D.C., tendo como núcleo formador o poderoso centro urbano de Alexandria, no Egito, que naquela época era uma verdadeira encruzilhada de diversas correntes culturais, quer religiosas, científicas, políticas e artísticas... perfazendo um centro de acumulação de conhecimentos ancestrais de diversos povos, coletados e conservados na famosa biblioteca de Alexandria. O Egito tradicionalmente é reconhecido pelos próprios alquimistas, como a origem de sua “Arte”. Desde cêdo a alquimia se associou à nova corrente mística que nascia, o cristianismo e o gnosticismo, mas sem abandonar a eclética mistura de culturas ancestrais que lhe dera origem, inclusive podemos detectar muitos termos e conceitos alquímicos e textos antiqüíssimos, como o “Per em Rhu”, ou “Sair à Luz” mais conhecido como Livro dos Mortos Egípcio, e mesmo no mais antigo de todos eles, os Textos da Pirâmides que remonta a mais de 2300 anos A.C..

Um dos mais antigos alquimistas conhecidos, certamente o mais famoso alquimista grego, que viveu em Alexandria entre o final do século III e início do século IV D.C., chamado Zózimo de Panópolis, cuja fama e maestria na “Arte” lhe valeu o título na época de “a coroa dos filósofos”, dizia que as sagradas escrituras contavam que os Anjos apaixonando-se das filhas dos homens, haviam descido e lhes revelado os segredos da natureza oculta. Julgados e condenados, estes foram sentenciados a um exílio perpétuo... Da descida destes Anjos ao plano da matéria e sua união com as filhas dos homens, havia nascido a raça dos gigantes, que aprenderam a arte e sabedoria dos Anjos ditos Caídos. E o livro em que se conserva a sabedoria e ensinamentos deixados por eles teria o nome de Chêma, daí o termo Alquimia aplicada à suprema “Arte”. Assim relata Zózimo de Panópolis.

De fato, hoje se aceita que a palavra “alquimia” derivaria do árabe “elkimyâ”, em que “el” ou “al” seria um artigo e kimyâ derivado do copta egípcio “khem” que significa “terra negra”, um dos nomes que os antigos egípcios davam a seu próprio país... Esta origem mítica da alquimia, associada aos anjos “caídos”, valerá à Alquimia o título de “arte maldita” por alguns.

Zózimo se refere provavelmente ao Livro de Enoch, considerado apócrifo pelos cristãos, ainda que citado umas cinco vezes no Novo Testamento. O livro de Enoch que havia estado perdido por séculos, fora reencontrado apenas no século XVIII D.C. num manuscrito Etíope, por um viajante inglês chamado Bruce. Neste livro altamente simbólico lemos a respeito de um dos anjos “caídos” chamado de Azazel, e que este teria ensinado aos seres humanos a confecção de objetos metálicos, logo a metalurgia, além do uso de adornos e cosméticos, isto é, a arte da estética pessoal, a capacidade de alterar nossa aparência, nos tornando mais jovens, mais belos, mais divinos...Será que isto tem relação simbólica ao que Zózimo se refere?

De fato, a alquimia se propõe basicamente a três abordagens:
1) Pela metalurgia oculta, ao fundir, sublimar e condensar metais através do “fogo”, transformando metais “corruptíveis”, como o ferro, a prata, o estanho, o mercúrio, o chumbo, o cobre, em um metal altamente estável e relativamente incorruptível, “imortal”... qual seja, o ouro. É a famosa transmutação metálica.

2) Realizar a alquimia pessoal do próprio alquimista, isto é, a alquimia de nós mesmos, transformando nossa natureza humana em divida...nos tornando um Deus, um Anjo, um Demônio, etc, remodelando o aspecto de nossa alma... “ressuscitando dos mortos” as energias e faculdades ocultas e latentes no ser humano. É a obtenção da medicina universal, enquanto capacidade de curar todas as doenças e manter por um pouco mais de tempo a beleza e a juventude das Adeptas e Adeptos.

3) A alquimia planetária, universal, ambiental e social. Isto é, assim como a alquimia pessoal é obtida fazendo-se correr por nossos corpos a energia fluídica do Mercúrio Filosofal, que no Yoga se chama de Kundalini Shacti entre outros nomes, aqui a Adepta e o Adepto da alquimia geram por meio de magia, correntes astrais e mentais a se deslocar pelo mundo... que aqui é encarado como um corpo vivo... potencializando que se processe em escala global transformações à semelhança daquelas que ocorrem no corpo humano do alquimista. Nesta se encontra, a dar crédito à Teosofia de Madame Blavatsky, boa parte do trabalho e “Arte” da Grande Fraternidade Branca e da Grande Fraternidade Negra... através dos séculos, via sociedades secretas e confrarias iniciáticas.

Para se entender esta última, devemos lembrar como se dá a mentalidade hermética ou alquímica, isto é, sua concepção ou “cosmologia de mundo”, como diria a antropologia.
Para nos ajudar a isto citemos talvez o mais famoso texto da alquimia, a “Tábua das Esmeraldas”, atribuída ao mítico Hermes Trismegistos, o Deus Thoth egípcio. O manuscrito mais antigo é árabe do século X D.C., que seria uma cópia de um original do século III ou IV D.C.. Há dezenas de traduções sutilmente diferentes em livros e na internet, e optamos em trabalhar com uma mistura de várias delas. Citamos aqui apenas os seguintes trechos para ilustrar:

“É verdadeiro, pleno, nítido e correto. O que está em baixo é como o que está em cima, e o que está em cima é semelhante ao que está em baixo, para a realização dos milagres da unidade (...) separarás a terra do fogo, o sutil do espesso, docemente e com grande indústria. Ascende da terra para os céus e desce novamente à terra de forma que obtenhas as forças das coisas superiores e inferiores (...) é esta a força suprema, que vence a coisa sutil e penetra a coisa espessa. Assim o mundo foi criado”

Isto é, na mentalidade ocultista dos alquimistas, o macrocosmo (estrelas, o mundo, as sociedades, etc) forma uma unidade com o microcosmo (minerais, vegetais, animais, humanos, esculturas, livros, etc), pois todos são inter-relacionados através de “assinaturas” planetárias, por assim dizer, qual seja, há minerais que correspondem a certos vegetais, e estes a certos animais, tipos humanos, sociedades, planetas, anjos normais ou “caídos”, deuses etc...Logo a alquimia mineral que transforma chumbo em ouro não é diferente da alquimia pessoal que potencialmente transforma um ser humano em um alquimista, mago, etc, nem é diferente da alquimia social, que transforma sociedades estagnadas em sociedades que favorecem uma ampla transformação e evolução social e pessoal de seus habitantes... Em verdade são todas uma só via...e transformação, e o que está em cima é igual ao que está embaixo...

A Alquimia opera procurando materializar o espírito, nossa alma, nossa mente e emoções... enquanto ao mesmo tempo procura sublimar e dissolver a matéria de nossos corpos mais densos. E assim como a água caindo e se misturando à terra forma o barro...maleável... assim o alquimista procura fundir seu espírito, sua alma, seu pensamento, suas emoções, seus sonhos às coisas da sua matéria corporal...e neste “barro” se modelar à imagem e semelhança do que quiser...e evoluir... Em verdade acabará se modelando seguindo suas tendências conscientes e inconscientes... e assim pois a Teosofia ensina que com o despertar da Kundaline, que como já falamos em alquimia equivale ao Mercúrio Filosofal, se atualizam as tendências e idiossincrasias que já são inerentes de cada pessoa. A alquimia apenas faz por acelerar a maturação da “semente” que cada um de nós é...ela não cria a semente, apenas a alimenta...e a desenvolve rapidamente. Como dizem os alquimistas...é preciso “ouro” para transformar outros metais em “ouro”...em outras palavras...só aprende a “Arte” aqueles que já sabem...ainda que esta sabedoria esteja dormente em seus inconscientes até que sua “semente” desperte...

O que tudo isto tem haver com o vampirismo?
Vampiros e alquimistas procuram pela imortalidade física e astral.
Alquimistas procuram pela pedra filosofal, a “tintura do ouro”, de cor vermelha, capaz de curar qualquer doença, abrir a visão aos mundos divinos, prolongar a vida, e capaz de transformar metais corruptíveis em ouro...Vampiros procuram pela Arte da manipulação da energia prânica, que se devidamente absorvida, filtrada e potencializada gera uma concentrada “vitae”, que pode curar e abrir todas as potencialidades ocultas do ser humano.
Ambos, alquimistas e vampiros são herdeiros de uma tradição oculta, multimilenar, que à semelhança dos Anjos “caídos” de Zózimo, seguram as rédeas de seu destino em suas próprias mãos...e fazem-se os senhores de si mesmos.
Alquimistas e vampiros são metamorfos...isto é, praticam a arte da metamorfose, da mudança de forma, da mudança em suas naturezas, da transformação, do ressuscitar dentre os mortos...como dirão repetidamente os alquimistas.
Haverá mais alguma semelhança...?

O objetivo aqui foi apenas introduzir em traços bem gerais este assunto. Seguindo o modo de pensar dos alquimistas, o surgimento da moderna subcultura vampyrica, com o “despertar” de vampyros de todo mundo, faria parte de um processo da alquimia planetária? A prática vampírica parece ter sempre existido, nas mais diversas épocas e regiões do mundo, conforme os mitos e a antropologia nos comprova, no entanto uma subcultura, ou melhor, uma cultura vampyrica é um fenômeno muito recente. O que isto significa em termos alquímicos?

Como pode, alguém dirá, das trevas do arquétipo do vampiro advir a luz ou a evolução do ser humano?
Respondo com outras perguntas:
Como pode do sombrio chumbo advir o ouro, como pretendem simbolicamente os alquimistas?
Como pode, citando aqui a nomenclatura alquímica, do “corvo” ou da “pedra negra” onde habitam os nossos “dois dragões babilonianos” no mais absoluto negror de nossas sombras... advir a iluminação da “pedra branca”...quando os “mortos ressuscitam de seus túmulos”...e nossas consciências ocultas finalmente despertam de seu sono...?
Como pode das mais infernais regiões de nosso inconsciente advir a mais alta luz da iluminação espiritual, mansão de nosso Eu Imortal, nosso Deus interior, de nosso Dragão Interior, daquele ser que se reencarna a eras...um ser mais antigo que as montanhas da terra como diria a Teosofia...ou como diriam os antigos egípcios, daquele ser que habita a mansão dos milhões de anos...?

Sim acredito que existam respostas para estas perguntas. E tudo isto sem matar, nem prejudicar ninguém e nem infligir nenhuma lei social sob nenhum ponto de vista.
Sim acredito que podemos encontrar estas respostas na condição vampírica.
Sim, nestas respostas estão, acredito, toda arte, toda indústria e toda sabedoria das Adeptas e Adeptos da alquimia...e, talvez, uma abordagem bem...exótica, a levantar suavemente parte do véu multimilenar que encobre uma das dimensões do que é ser um Vampyro...
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