Espiritismo e Misticismo: semelhanças e diferenças

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Espiritismo e Misticismo: semelhanças e diferenças

Postby The Madame X » Mon Aug 10, 2009 7:23 am

Espiritismo e Misticismo: semelhanças e diferenças
Por HugoLapa

Muito se tem estudado sobre as relações entre as diversas correntes espirituais e cada vez mais as pesquisas apontam para uma universalidade religiosa. Dizemos universalidade no sentido de encontrar uma base comum entre as religiões e os sistemas espirituais e não cair no erro de criar uma concha de retalhos.

No Brasil é muito comum vermos estudantes espíritas iniciando seus estudos de tradições esotéricas e místicas. Cada vez mais, os buscadores sinceros firmam seu interesse em práticas mais profundas, mais diretas, mais claras e mais objetivas, visando não apenas a teorização dos principios filosóficos, mas a experiencia destes como ferramenta de transformação interior.

Vamos refletir sobre algumas das diferenças e semelhanças entre o misticismo e o espiritismo em linhas gerais, para que os buscadores possam melhor entender essas questões.

Diferenças:

1) O Misticismo ensina que o ser humano é o Mestre de si mesmo, e nao há outro mestre senão o seu Mestre Interno. Nesse sentido, nao há necessidade de buscar mensagens de ensinamentos fora de nós, muito menos em outro plano. Os espíritos não são mais evoluídos só por que são espíritos. Não há diferença entre a sabedoria de um encarnado e a sabedoria de um desencarnado. Porém, quando alguns mestres espirituais encarnados libertam-se do jugo e dos limites impostos pela vestimenta física, eles passam a expressar mais completamente sem potencial, sendo mais eles mesmos.

2) Os ensinamentos tradicionais apontam para o crescimento e desenvolvimento do ser. O Espiritismo ensina que devemos evoluir pelas experiências da nossa vida. O misticismo fala de uma via muito mais rápida e direta: a via iniciática. Em vez de preocupar-se com a anulação do karma negativo em karma positivo, é muito mais importante a transmutação de todos os nossos atos. Quando existe essa alquimia interna, nossos atos não mais produzem efeitos no mundo objetivo, o que torna impossível a geração de resultados que venham a produzir causas e efeitos. Nosso ser estará elevado a ponto de não provocar modificações que possam alterar nossa roda de causas e efeitos.

3) O Espiritismo crê que fomos criados por Deus simples e ignorantes. Mas essa proposição encontra uma contradição fundamental: como é possível que Deus, sendo perfeito, possa ter criado seres imperfeitos? O misticismo não crê necessariamente num Deus único, no sentido de um regente universal, que atua no Universo. O Misticismo fala de uma essencial realidade, eterna e inefável, infinita e imanifesta. Segundo o Misticismo, os seres viventes é que criam a sua própria realidade, e fazem isso quando se “separam” do absoluto essencial. Mas essa separação é toda ilusória e o ser jamais deixa de possuir a mesma natureza da realidade essencial. Nesse sentido, o ser é a própria realidade divina inconsciente de si mesma. Em outros termos, o ser é o Todo em miniatura, sendo perfeito em suas potencialidades.

4) O Espiritismo sempre ensinou uma via baseada na fé. Ou seja, um caminho onde é necessário ter acreditar em algum médium ou em algum espírito puro que revelou uma mensagem. O Espiritismo é, assim, pautado na revelação. Não há qualquer técnica ou conhecimento dentro da Doutrina Espírita que permita o acesso direto ao cerne do conhecimento revelado pela espiritualidade. É preciso recorrer à fé ou a um exame lógico, que se é melhor do que a fé cega, mesmo assim ainda possui múltiplas limitações, pois limitado é a nossa capacidade mental. A análise meramente intelectual, fria e distante dos fenômenos jamais poderá trazer à tona uma consciência direta sobre os princípios envolvidos. O misticismo trata desse contato direto e ensina os meios que cada buscador tem de acessar os princípios do que é ensinado e, dessa forma, verificar por si mesmo a validade daquela sabedoria. Esse é um método que se assemelha a ciência moderna, mas que a transcende de várias formas.

5) O Espiritismo acredita numa individualidade eterna, que desde o momento de sua criação divina, nada mais fará a não ser ganhar e ganhar em evolução. Não importa o que se faça, em determinado momento essa individualidade chegará a perfeição, e mesmo chegando a perfeição, continuará a ser uma individualidade. A noção de perfeição em hipótese alguma pode aceitar uma preservação da individualidade, pelo simples motivo que a individualidade é limitada em si mesma, desde a sua formação. A individualidade é um limite, e nada do que é perfeito pode ser limitado. O perfeito deve ser ilimitado e infinito, deve incluir todas as coisas, não aceitando qualquer tipo de limite. Nesse sentido, não há qualquer possibilidade de haver uma perfeição como individualidade. E muito menos haver um espírito perfeito, separado de outro espírito perfeito, distinto de um terceiro espírito perfeito, e assim por diante. Tal separação sempre pressupõe um limite, e a concepção de perfeição jamais pode sugerir uma concepção, qualquer que seja, de algo restrito e incompleto.

6) O Espiritismo crê na supremacia da razão; acredita que apenas o instrumento da intelecção pode conduzir o homem a evolução. Essa concepção é herdada da época de arraigado materialismo que viveu Alan Kardec. O Misticismo fala da insuficiencia da razão em dar conta de todo o conhecimento absoluto e que o ser humano precisa elevar sua consciência além do intelecto para despertar uma sabedoria superior. O misticismo vira a razão de cabeça para baixo e procura mostrar a sua carência; o Espiritismo procura adaptar-se a razão e as pesquisas cientificas. Apesar do misticismo não negar estas pesquisas e valoriza-las, não subsiste a crença de que o conhecimento humano se esgota com a ciência.

7) O Espiritismo procura caracterizar a Deus, dar-lhe diversos adjetivos para melhor compreende-lo. O misticismo não usa o arfício da análise para produzir qualquer conhecimento relativo ao absoluto, mas enfatiza a necessidade de seguir a equação proposta por Jesus quando disse “Eu e o Pai somos um”. Ou seja, o misticismo ensina que o ser humano é um só com a divindade, que os limites que supomos existir que nos separam do absoluto são mera ilusão de nossa percepção, eles não existem de fato. Não existem os limites das coisas a não ser quando os consideramos, mas apenas o limite de nossa consciência. O Espiritismo vê uma separação entre o espírito e Deus; o misticismo nega essa separação e afirma uma correspondência e similaridade. Essa ideia está bem exposta na frase “O Homem foi criado a imagem e semelhança de Deus”. Ou seja, o ser humano, para o misticismo, é um universo em miniatura e possui todos os atributos da divindade em estado latente, tal como uma semente contém, em estado potencial, a arvore inteira.

Semelhanças:

1) Tanto o Espiritismo quanto o Misticismo acreditam na existência de um princípio espiritual divino e criador.

2 ) Ambos, Espiritismo e Misticismo, falam da existência de mestres espirituais. No Espiritismo eles são chamados de espíritos puros, no Misticismo eles não possuem um nome fixo, mas são comumente chamados de Mestres.

3 ) Espiritismo e Misticismo defendem a existência de um sentido da vida. O universo não é regido pelo mero acaso, há leis que regulam seu funcionamento. Tudo existe orientado por um propósito superior, que ainda nos escapa a compreensão.

4) Tanto o Espiritismo quanto o misticismo creem na sobrevivencia após a morte. Apesar do Espiritismo dar muito mais valor ao estado e as condições póstumas, ambos concordam que há no individuo um princípio que não se encerra na matéria.

5) O misticismo acredita na existência de vários planos ou níveis de consciência e realidade. O Espiritismo possui uma noção semelhante, quando aborda sobre a escala espírita, ou seja, o grau de adiantamento moral dos espíritos. Essa escala vai desde os espíritos inferiores até os espíritos puros.

6) O Misticismo e o Espiritismo concordam que tudo no universo tem uma composição fluidica, ou seja, todas as coisas são constituidas de uma energia. A energia é o veículo universal pelo qual o ser ou espírito se manifesta na cadeia universal de evolução. Desde a matéria bruta ao arcanjo, tudo é composto de vibrações, das mais densas as mais sutis.

7) O Espiritismo e o Misticismo ensinam que não há vazio no cosmos, tudo é preenchido por uma realidade que nossos sentidos não podem ainda captar; há um imenso manancial de energia potencial onde alguns supoe existir o vazio no espaço. Apesar de algumas correntes do misticismo oriental falarem sobre o vazio, ou vacuidade, há um consenso de que o vazio sempre contém algo que ainda não conhecemos e que reside em estado latente.
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