O Vampirismo Prânico, Sanguíneo e a Sociedade

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O Vampirismo Prânico, Sanguíneo e a Sociedade

Postby VITRIOL (Otto) » Sat Mar 07, 2009 6:55 pm

Vampirismo no Brasil, quando levado a sério é sinônimo de crime, e inspira medo e rejeição. É disto que falaremos, mais que de suas implicações místicas, pois pelo menos no Brasil quando de fala de vampirismo de sangue em especial, é isto que vem às consciências.

Sobre a subcultura vampírica, a psicóloga forense Katherine Ramsland, diz que das coisas que podem ser encontradas na subcultura vampírica, entre outras, é o fetiche por sangue, o sadomasoquismo, uma cena musical, expressão criativa e escapismo (Ramsland, 2002, p. 187 – não faremos traduções literais em respeito aos direitos autorais). Será mesmo? Seremos nós vampiros todos associados ao sangue? Praticamos algum tipo de escapismo?

É importante destacar que dentro da subcultura vampírica há varias formas de apropriação do mito do vampiro por parte das pessoas, com práticas muito diferentes entre si. Trataremos aqui apenas daquelas variedades que indicam uma incorporação consciente e profunda do mito com sua associação à obtenção de vitalidade, seja por sangue, seja por aquilo que no Oriente se dá o nome de prâna, isto é, uma forma de energia vital.

Os vampiros de sangue, isto é, aquelas pessoas que se associam a uma identidade vampírica e dentro desta necessitam de sangue, são também chamadas de bebedores de sangue, ou “Blood Drinking”, e são vulgarmente associados à hematofagia – consumo de sangue – e à hematodipsia – ou ao prazer sexual obtido em se ver e absorver sangue em geral, e sangue humano em particular. A autora Nancy Kilpatrick nos afirma que das pessoas que se identificam aos vampiros por ela entrevistados, um quarto daquelas 96 pessoas bebiam sangue de forma regular, normalmente com conotações eróticas ou ritualísticas,
(Kilpatrick, 2004, pp. 18-19), porém não há como mensurar, e ela mesma reconhece isto, a “qualidade” no método de levantamento de sua amostragem estatística, muito menos aplicá-la ao contexto brasileiro dizemos nós. Esta prática possui uma forma particular de onanismo, qual seja, fazer pequenos cortes e incisões em partes discretas do próprio corpo, para daí obter prazer absorvendo o próprio sangue, como extensamente registrado em comunidades especializadas do ORKUT no Brasil. Gavin Baddeley nos lembra que tais fetiches por sangue ganham nomes genéricos na década de 1990, tais como “blood sports” e “blood play”, e ainda “hemossexualidade”. (Baddeley, 2002, p. 238). Ramsland nos fala mesmo de uma psicopatologia que ela denomina de “Desordem da Personalidade Vampírica”, que quando associado ao sangue pode levar, no limite, a crimes como os cometidos pelos famosos casos de Erzebeth Bathory, Gilles de Rais, Vincenzo Verzeni, Bela Kiss, Peter Kürten entre outros monstros assassinos.

Mas o vampirismo sanguíneo praticado pela moderna Subcultura Vampyrica se associa a isto? A crimes? Dizer isto é certamente misturar padrões culturais totalmente distintos, pois o vampyrismo moderno é uma cultura em si, e analisá-la tendo por referência ocorrências de outras culturas/épocas/sociedades é um erro elementar de etnocentrismo, isto é, de se tomar a sua própria cultura como referência para se analisar outras culturas. Vampyros modernos têm cultura própria e absolutamente NADA a ver com crimes. A prática ocorre somente entre adultos que se associam de livre e espontânea vontade, cuja troca de sangue (no caso dos vampiros prânicos ocorre a troca de prâna) é na verdade extremamente pequena, e obtida de locais onde não há risco de hemorragia, logo não ameaçando a saúde dos praticantes.

Esta forma de antropofagia sanguínea ou hematofagia, é muitas vezes sublimada em uma série de procedimentos simbólicos, por exemplo, com a utilização de vinho tinto. O historiador especializado em religiosidade nas Américas J. Gordon Melton citando uma passagem do livro “Dracula” de Bran Stoker de 1897, e filmes derivados, em que o personagem Dracula diz ironicamente “Eu nunca bebo... vinho...” e que, segundo Melton, faria com que o vinho e suco de uvas passassem a ser usado como metáfora do sangue humano. (Melton, 2003, p. 853).

Uma segunda variedade de apropriação do mito do vampiro é o vampirismo prânico ou energético, que visa extrair “vitalidade” ou “prana” das pessoas, sendo prana uma palavra “sânscrita”, pertencente à cosmologia hindu e incorporado ao ocultismo europeu já no final do século XIX, e que no “Glosário Teosófico” de Madame Blavatsky de 1892, esta afirma que “prana” significa alento de vida, vitalidade, que produz todos os fenômenos vitais, o princípio vital por excelência (Blavatsky, 2004, p. 508), isto é, o vampiro prânico suga outra pessoa mentalmente, criando um fluxo de “energia/matéria sutil” vindo do vampirizado para si mesmo, após o que é filtrado, condensado e devidamente armazenado e canalizado.

O processo é todo mental, e ocorre uma sensação de euforia e tonificação mental, emocional e fisiológica, substituindo, conforme se acredita, parte da alimentação sólida, e passível de ser usado em operações de magia, alquimia e evolução pessoal. Ramsland afirma que vampiros que não querem se associar às práticas de beber sangue, se associam à qualidade etérica dos vampiros, isto é, de que a energia vital pode ser tomada de outra pessoa como uma forma sutil e mental de sangue. (Ramsland, 2002, p. 181).

Assim absorver prâna poderia ser considerada uma forma sublimada ou mental de vampirismo sangüíneo, ou dito de outra forma, o vampirismo sanguíneo ser considerado uma forma materializada de vampirismo prânico? Pensamos que sim.

Evidentemente uma categoria não exclui a outra, de sorte que se pode pertencer a várias ao mesmo tempo. Há mesmo prana no sangue, assim como alguns vampiros prânicos, mesmo absorvendo apenas prâna mentalmente, relatam surgir algo semelhante ao gosto de sangue na boca, como cita Michelle Belanger.

Sejam vampiros prânicos ou sanguíneos, hoje pelo menos no Brasil ou são desconhecidos ou quando conhecidos associados a rituais de magia negra da pior espécie, crimes e assassinatos, sintomas de uma rejeição social que não se atendo à verdade rotula como convém ao senso comum. Associam os vampiros modernos a jogadores psicopatas de RPG e a crimes de todo tipo.

Não há dúvida que há pessoas capazes disto e que sujam a nossa imagem, mas há padres que praticam atos criminosos, e evidentemente não podemos julgar o cristianismo em seu conjunto por estes.

Os homossexuais formam, por exemplo, um grupo de pessoas extremamente combatidas, considerados doentes mentais passíveis de tratamento durante muito tempo, mas que nas últimas décadas reverteram esta situação e se fazem respeitar mais e mais. O pensamento feminino livre em seu combate pelo fim das assimetrias de direitos sociais (incluindo o moderno feminismo) já foi crime e associado aos demônios (Lilith por exemplo). Como venceram e estão a vencer cada vez mais? O que podem nos ensinar?

Eles nos ensinam que precisamos nos organizar, nos unir e nos assumir! como vampiros prânicos ou de sangue. Pessoalmente eu me assumo como um vampiro prânico e tenho o vampirismo como religião, e via de aprimoramento e evolução pessoal. Porém, se por um lado não se pode exigir que as pessoas se assumam, por outro não se pode criticar os que se assumem publicamente como vampiros dentro da sociedade.

Penso que a receita é, nos fazer respeitar não apesar de sermos o que somos, mas justamente por isto, isto é, usando nossa diferença e minoritária presença como elemento de nossa proteção. Mas só é respeitado quem se respeita, quem se vê com seriedade, fundamento e profundidade, não prejudicando ninguém e respeitando rigorosamente as Leis de nosso país que, em uma Sociedade Democrática e de Direitos, são mesmo nossa proteção e garantia. No Brasil:

Constituição Brasileira, art. 5º, inciso VI - É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.

Código Penal Brasileiro, art. 208 - Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso:
Pena - Detenção, de 1 mês a 1 ano, ou multa.
Parágrafo único - Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da correspondente à violência.

O Império Romano tinha por símbolo um cilindro maciço de finos e frágeis gravetos de madeira. Separados podiam ser facilmente quebrados. Mas unidos daquela forma emprestavam força, resistência e irresistível presença uns aos outros. Eu sou um frágil graveto que procura por outros...


BIBLIOGRAFIA:
BADDELEY, Gavin, Goth Chic – um guia para a cultura dark, Rio de Janeiro: Rocco, 2005.
BELANGER, Michelle, The Psychic Vampire Codex, Boston: WeiserBooks, 2004.
BLAVATSKY, Helena Petrovna, Glossário teosófico, São Paulo: Ground, 1995.
KILPATRICK, Nancy, The Goth Bible, New York: St. Martin’s Press, 2004.
MELTON, J. Gordon, O livro dos vampiros – a enciclopédia dos mortos vivos, São Paulo: M. Books, 2003.
RAMSLAND, Katherine, The Science of the Vampires, New York: Berkley Boulevard Books, 2002.
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Postby hades » Tue Jul 21, 2009 6:08 am

Belo artigo...

Pois aqui colocamos em pauta se é mesmo necessário o consumo de sangue para se obter o 'Vitae' ? ... visando hoje os grandes riscos associados a doenças e até mesmo à exposição de bactérias que podem entrar em nosso sistema sanguineo ...
Não nego que há sim uma concentração de 'Vitae' no sangue...pois nele esta a materilização da energia que move nosso corpo...logo esta energia esta concentrada no sangue...posso até dizer que o que conseguimos com 30 minutos de drenagem de energia, via astral e mental, se consegue em pouquissimos minutos se fosse acessado atravez do sangue...mas será que o risco vale a pena?
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